Um Lugar Chamado Brick Lane

Um Lugar Chamado Brick Lane

por Monica Ali

Descrição

Um lugar chamado Brick Lane, romance de estréia da escritora Monica Ali, causou sensação no meio literário britânico antes mesmo de ser publicado. A autora fechou um bom contrato com uma editora de renome ao mostrar apenas cinco pequenos capítulos que tinha prontos. Em seguida, seus manuscritos lhe renderam uma vaga na cobiçada lista dos melhores romancistas jovens do Reino Unido em 2003, organizada pela conceituada revista Granta. Quando o livro finalmente chegou às livrarias, depois de todo esse alvoroço, ele já estava consagrado pela crítica, que o recomendou sem reservas. Nada mais natural, portanto, que a expectativa em torno do romance fosse enorme. E ela não se frustrou - no mesmo ano, Monica Ali foi incluída entre os finalistas do Man Booker Prize e do prêmio literário do jornal The Guardian. Além disso, seu livro permaneceu entre os mais vendidos durante boa parte do verão europeu. Traduzido sem demora para 14 idiomas, Um lugar chamado Brick Lane ganhou o mundo e mereceu a capa do New York Times Book Review. Agora chegou a vez de o Brasil conhecer este fenômeno.

A protagonista deste romance tão festejado é Nazneen, uma bengalesa muçulmana de 18 anos, casada com um homem de 40. Seu casamento foi arranjado pela família, algo bastante comum em sua cultura. Mas a moça não vive em Bangladesh – ela é um dos milhares de imigrantes orientais que vivem em Londres, tentando não deixar que o estilo de vida ocidental sufoque suas raízes.

Nazneen é uma jovem absolutamente conformada, educada para aceitar qualquer coisa que o destino lhe reserve. É por isso que ela tolera Chanu, o marido que seus pais lhe arranjaram, um homem medíocre, enfadonho, feio e confiante numa promoção que seu chefe jamais lhe dará. Mas Nazneen se esforça para pensar apenas nas qualidades daquele quase estranho. "Pelo menos ele é um homem bom", é o que ela sempre pensa, enquanto usa uma gilete para cortar os calos do marido.

Em tese, Chanu não a proíbe de fazer coisa alguma. Mas ele a desencoraja a aprender inglês, a fazer amizades, a ir à rua. Tudo para que ela seja totalmente dependente dele. Nazneen é o que ele chama de garota de aldeia, uma jovem educada para servir cegamente ao marido, à moda tradicional, ao contrário das mulheres estragadas que se deixam contaminar pelo Ocidente. A própria Nazneen acredita no que sua mãe sempre lhe dizia: "Se Deus quisesse que nós fizéssemos perguntas, teríamos nascido homens". No entanto, apesar das adversidades, a esposa se revela bem mais preparada que o marido para enfrentar o mundo. E com o passar dos anos, muito lentamente, a cultura ocidental findará arrastando a imigrante bengalesa para o seu turbilhão, sem que Chanu possa fazer nada para impedir.

A simples tarefa de depilar as pernas, algo que qualquer mulher ocidental é capaz de fazer em poucos minutos e de forma automática, é um gesto de libertação para Nazneen, um ato transgressor e cheio de significado. É belíssimo ver como decisões aparentemente banais vão pouco a pouco transformando a personagem. O passo definitivo rumo a sua afirmação como indivíduo será a adesão a um grupo de ativistas orientais cujo objetivo é proteger os imigrantes islâmicos do preconceito pós-11 de setembro. E a grande virada de Nazneen como mulher não será a maternidade, como ela esperava, mas a atração sexual que sentirá por um homem bem diferente de seu marido.

Em paralelo a tudo isso, Nazneen se corresponde com Hasina, sua irmã, moça malvista em sua terra natal por ter se casado por amor, sem o consentimento da família, e depois ter fugido do marido, extremamente violento. Nazneen tem uma vida considerada respeitável em Londres; Hasina é a ovelha negra em Bangladesh. Mas ambas vivem como seres humanos de segunda classe, cada qual de um jeito. Até que ponto elas podem transformar suas vidas? Esta reflexão é a base de Um lugar chamado Brick Lane, romance belíssimo que vai muito além do mero conflito cultural Ocidente versus Oriente.

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